sábado, 18 de julho de 2009

MInha Bunda

Texto de Mário Prata.

A principal diferença entre a revista Playboy americana e a Playboy brasileira é a língua? Errado. é a bunda.

Na americana, temos seios, úberes, verdadeiras tetas que mal cabem nas páginas duplas. Na nossa, temos bundas. Bundinhas de penugem loira, bundinhas de contorno marrom, até bundinhas cor-de-rosa,

Americano não gosta de bunda? Eu diria que americano não conhece a bunda. Aliás, no mundo inteiro, não existem bumbuns como os nossos, ou melhor, como ás nossas. A bunda é produto interno bruto tipicamente brasileiro. Às vezes, a revista americana faz edições especiais sobre seios. Aqui, fazemos verdadeiros compêndios sobre (e sob) bundinhas. Narcisamente, o brasileiro adora a própria bunda.

Mas de onde veio a nossa bunda?

Tinha essa dúvida até conhecer Cabo verde, um país de dez vulcânicas ilhas na costa oeste da África. Quase fora do mapa. Foi lá que tudo começou.

O país tem, atualmente, mais ou menos 300 mil bundas ambulântes espalhadas pelo arquipélago. Bundas livres de Portugal desde 1975. E a bunda brasileira, antes de chegar aqui, passou por lá, vindo do continente africano. [...]

Um dia estaca com um amigo português, o cinestra Paulo de Souza, especialista em cinema africano, numa praça de Mindelo, capital intelectual do país e das bundas (a capital do país chama-se Praia, pode?). Eis que passa na nossa frente uma bunda vestida com uma minissaia verde, justa, justíssima. Não tivemos dúvida. Seguimos a bunda por vários quarteirões, em homenageante silêncio, até que ela entrou numa casa e nós voltamos para a praça sem a necessidade de dizemos nenhuma palavra um para o outro. Era uma obra-prima da natureza aquela menina. De noite, lá pelas duas da manhã, estou no meu hotel a dormir e batem na porta. Era o Paulo que havia isso a uma boate. estava trêmulo, suado:

- Vem, vem, lembra daquela Bunda?
- Estava sonhando com ela.
- Veste, veste! Ela está na boate. A bunda está dançando na boate!

E lá fomos nós dois para a boate não só a "nossa" bunda de verde (agora num fulgurante amarelo) dançava, mas uma infinidade delas. Que espetáculo.

Só que, no princípio, era o verbo e não a carne e, naquele tempo, na época do tráfico dos escravos, quando surgia a bunda no meio do atlântico, qual ilha vulcânica, a bunda ainda não se chamava bunda. Como aliás, até hoje em Portugal não se chama. Bunda só no Brasil. Em Portugal a bunda é um cu.

Mas foi na mesma África que fomos buscar a sonoríssima e mais do que adequada palavra bunda. Diz a lenda que a origem seria das danças dos africanos. Ficavam as mulheres dançando no meio e o crioléu em volta batendo tambor e fazendo som a boca: bun-da!, bun-da! Mas isso é lenda. na verdade,a palavra veio da língua quimbundo (kimbundu), da palavra bunda (mbunda, tubundas, elebunda?), lá para os lados de Angola, local onde viviam os bantos, raça negra sul-africana à qual pertenciam[...]

Nós, brasileiros e cabo-verdianos, nascemos com a bunda virada para lua.

As cem melhores Crônicas Brasileiras, Editora Objetiva.
Pág. 285 á 287, texto de Mário Prata.

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